terça-feira, 6 de novembro de 2012

Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, A


Poucos livros mexeram tanto comigo como este. O titulo já me despertou interesse porque tenho uma queda por assuntos místicos e livros de auto-ajuda. Mas não imaginava que o livro me poria em contato com as próprias motivações que me puxam para a arte.

Identifiquei-me (metaforicamente), com a jornada do autor, Eugen Herrigel, que foi até o Japão e lá passou anos dedicando-se ao aprendizado do arco e fecha com um mestre budista, não com um objetivo meramente esportista, mas sim espiritual, de transcendência. E essa, como todas as jornadas, teve seus autos e baixos. Eles chegou a pensar em desistir em alguns momentos, se questionou se valia tanto tempo e esforço (e, por que não, dinheiro) investidos em um objetivo. Mas ele resistiu até o fim. Espero ter a mesma persistência.

RESPIRAR e RELAXAR são duas palavras de ordem que quase todos os professores de violino com quem estudei até hoje repetem exaustivamente. Parece óbvio que a gente tem que respirar, mas frequentemente eu me esqueço disso quando estou estudando violino. Além dessas semelhanças com o estudo de qualquer arte ou ofício, o próprio “arco” do arco e flecha remete imediatamente ao “arco” do violino. A mesma dificuldade que o autor sentia para segurar o seu arco eu tive (e ainda tenho) com o instrumento musical.

Igualmente ao trabalho do aspirante a arqueiro, o aspirante a violinista e o aspirante a ator também precisam repetir a técnica até a exaustão. A repetição, como bem frisa o livro, faz com que nos esqueçamos de nós mesmos e de toda a intenção de executar bem a tarefa. A auto crítica exacerbada e a vontade de agradar, de impressionar, o egocentrisco são provavelmente os maiores obstáculos dos artistas.

Eu sinto que quanto mais eu exercitar o pensamento de fazer para comunicar, fazer para emocionar, fazer pelo simples prazer de fazer e não fazer para ser admirado, para ser aceito, para ser respeitado, mais eu me libertarei como pessoa e como artista. Desprender-me de mim mesmo.

“Deixe de pensar no disparo” diz o mestre. “Somente o espírito deve estar presente. O homem é a matéria-prima de sua própria criação. Você estará pronto quando alcançar o objetivo sem intenção de fazê-lo. Você apenas pratica, pratica à exaustão, e as coisas acontecem naturalmente. Por isso, o elogio advindo do bom resultado não deve alterá-lo, enchê-lo de orgulho, porque você não teve intenção”. Não foi para receber elogio que você se esforçou para conseguir. “Não se deve envergonhar pelos tiros errados nem felicitar-se pelos que se realizam plenamente”.

IMPARCIALIDADE. Deve-se alegrar-se como se outra pessoa tivesse executados aqueles disparos exitosos. “Apenas observe. O mérito não é seu porque você não teve intenção”. O disparo “caiu”.

Achei lindo o trecho que fala: “todas essas coisas, o arco, a flecha, o alvo e eu estamos enredados de tal maneira que não consigo separá-los. E até o desejo de fazê-lo desapareceu. Porque, quando seguro o arco e disparo, tudo fica tão claro, tão unívoco, tão ridiculamente simples...”

De fato, quando eu paro pra pensar, tem detalhes no tocar violino que no início dos estudos pareciam impossíveis de se fazer, mas que agora eu faço sem racionalizar. E um dia eu sei que essa sensação vai ser completa, ou seja, eu serei capaz de fazê-lo sem ter que pensar em cada parte do corpo que eu tenho que mexer e de que forma. 

No fim, acho que a principal mensagem do livro (e do pensamento zen-budista) é que a gente deve estar sempre preparado, equilibrado para não se deixar enaltecer pelo elogio, nem se martirizar pela crítica. Tudo é processo. E o processo é muito mais importante que o resultado, pois é ele que vai permitir a elevação espiritual.


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