quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Brazil, O Filme (1985)


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Brazil, UK, 1985
Direção: Terry Gilliam

Fazia alguns anos que eu tinha visto esse filme pela primeira vez. E na época não tinha me agradado muito (apesar de saber que é tido como obra-prima). Aliás, não sou muito fã do diretor Terry Gilliam. Ele fez parte do famoso grupo inglês de comédia Monty Phyton, e inclusive dirigiu “Monty Phyton e O Calice Sagrado” que é considerado por muitos a melhor comédia de todos os tempos. Eu, pessoalmente, não achei tão engraçado assim. Odiei o filme “Medo e Delírio”, uma viagem de ácido psicodélica super entediante. Também achei “O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus” muito arrastado (apesar do desbunde visual de encher os olhos). Ainda mais fraquinho é “Os Irmãos Grimm”, que tem Heath Ledger como protagonista, ao lado de Matt Damon. O único filme dele que eu de fato gostei foi “Os 12 Macacos”, ficção científica de primeira com roteiro bem amarrado, que usa  todos  os ingredientes típicos do diretor (surrealismo, sonhos, viagem no tempo, futurismo apocalíptico etc.) de forma inteligente e interessante, sem cansar o espectador.

Considero “Brazil” um filme um pouco arrastado, difícil de digerir, e considerando que tem duração de 2h12, exige uma boa dose de paciência. Mas nem por isso deixa de ser um bom filme, principalmente por ser ousado e visionário para o seu tempo, lembrando que foi lançado em 1985. Ele critica diversos aspectos negativos da nossa sociedade e, assim como a maioria dos filmes futuristas, é pessimista, tendo acertado em alguns palpites e errado em outros tantos.

O filme prevê um futuro dominado pela burocracia, onde tudo depende do preenchimento de formulários (em papel), carimbos, assinaturas, e tudo é dividido por milhares de setores. A papelada é tanta que um personagem chega a ser literalmente consumido por folhas de papéis.

A população é concentrada no grande centro, tomado por arranha-céus, e as regiões mais afastadas são desertas (um visual que lembra Mad Max). Os prédios são repletos de intermináveis tubulações aparentes e emaranhados de fios, como se a sociedade fosse um mega organismo vivo, um sistema nervoso conectado. 

Não é à toa que quase todas as pessoas (principalmente os homens) se vestem de cinza. As paredes são cinza. As portas são cinza. As ruas (e alguns interiores) são empesteadas por fumaça (cinza).

A polícia é truculenta e atira nos cidadãos diante de qualquer mínima suspeita. Essa violência é inclusive estimulada desde cedo, já que as crianças brincam com armas que parecem reais. Aliás, ao que parece, as armas são vendidas livremente nas ruas. Esse aspecto remete diretamente ao culto armamentista que acontece nos EUA.

As pessoas não têm praticamente liberdade individual (é curioso, por exemplo, que os funcionários do Serviço de Obras Públicas trabalham e circulam livremente dentro das casas das pessoas, perfurando paredes sem sequer pedir licença).

É engraçado observar também a crítica à tecnologia. As casas são cheias de aparelhos com diversos botões, mas que emperram e não funcionam direito. É interessante também a crítica à padronização dos alimentos fast food, que são feitos para serem vendidos em larga escala, como numa indústria. Sendo assim, mesmo nos restaurantes mais chiques os pratos são “catalogadas” por números, como no Mc Donald’s.

Outra crítica clara é em relação à cirurgia plástica, o desespero dos seres humanos (principalmente as mulheres) em parecem sempre jovens. Feliz coincidência (ou não) o fato de hoje o Brasil ser referência mundial em cirurgia plástica.

O filme também é repleto de frases de efeito espalhadas em outdoors, placas e pichações, como (em livre tradução): “A Verdade Te Fará Livre”, “Felicidade Para Todos Nós”, “Realidade!” e “A Suspeita Cria Confiança” (essa última lembra muito o slogan da polícia novaiorquina após os atentados de 11 de Setembro: “See Something, Say Something”).

As sequencias mais “viajantes” (como se já não bastasse a “viagem” que é a “realidade” dos personagens) são as dos sonhos do protagonista. Ele apaixona-se por uma mulher (uma espécie de guerrilheira pós-apocalíptica) e seus sonhos são traduzidos em imagens surrealistas (que remetem bastante a Salvador Dalí), com cabelos esvoaçantes e o protagonista munido de armadura, espada e asas gigantescas.

Aliás, tudo é gigantesco nas sequencias dos sonhos. Pilastras de concreto enormes perfuram as florestas e se erguem até os céus. Um samurai gigante aparece para cortar as asas do protagonista.

A sequência final me lembrou muito a de “Blade Runner”, em que, depois de um filme inteiro obscuro, com todas as situações acontecendo em lugares fechados, finalmente o espectador "respira um pouco de ar puro”, e tem uma imagem da natureza, que traduz esperança e otimismo. Mas Gilliam preferiu surpreender o espectador e fez um corte brusco para uma cena que remete à sessão de lobotomia de “Laranja Mecânica”. Um dos finais mais impactantes que já vi.

No fim, "Brazil" me causou admiração por ser um filme inteligente, metafórico e rico. Mas, na minha opinião, é o tipo de filme ótimo para ser analisado, estudado , mas que não  provocou qualquer emoção.

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