quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Estou Aqui (2010)



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I'm Here, EUA, 2010
(Curta Metragem)
Direção: Spike Jonze

Que dó! Que dó! Que dó! É o que me vem na cabeça depois de ver esse curta. Como pode alguém se doar tanto a ponto de se anular de tal maneira diante do outro? Você pode (e deve, eu acredito) amar por inteiro, de corpo e alma, pra toda a vida, mais que tudo, mas acima de tudo você tem que se amar. Como a gente pode amar o outro sem se amar primeiro?

A primeira doação, a do braço, me deixou maravilhado. Pensei “que lindo!”, “nossa, que cena mais linda” “é uma das mais lindas que eu vi”! Que incrível uma “pessoa” doar seu braço por amor! Não dá pra imaginar prova de amor mais sincera que essa! A música tema também é linda! “There are many of us for you to turn./ There are many of us for you to share” (Há muitos de nós com quem você pode contar. Há muitos de nós com quem você pode compartilhar.) Mas o filme (na minha opinião) mostra exatamente o contrário. As pessoas são egoístas, só pensam em si. Doe um braço que vão te pedir a perna. Doe uma perna e vão te pedir teu corpo inteiro.

O personagem vai se anulando, vai se mostrando um zero à esquerda. Isso fica mais do que claro quando ele convence a menina a aceitar a perna: “Eu sonhei que todo mundo tentava te dar uma perna e você escolheu a minha. E isso me deixou tão feliz”. Ou seja, como se já não bastasse ele querer se doar, ele ainda se sente um privilegiado por isso! Ele não doa porque ama, ele doa porque não se ama ... e precisa desesperadamente ser amado. Olha pra mim! Presta atenção em mim! Estou aqui! I’m Here!

O personagem Sheldon me lembrou muito Macabéia de "A Hora da Estrela" (Clarice Lispector). Ela pedia desculpas por ser humilhada. Ele pede “Pelo amor de Deus, deixa eu me anular pra você!”. Não sei porque, mas a personagem da Clarice me deu compaixão, o personagem do Spike Jonze me provocou um sentimento de revolta. Talvez por machismo da minha parte, de não conseguir conceber uma postura dessas para um homem. Senti raiva dele por ser tão benevolente, e mais ainda da namorada por aceitar a postura dele. Pra mim, a postura dela foi egoísta e cruel. Ela deu mais valor ao próprio bem estar do que ao amor que sentia por ele. Quem ama cuida, já diz o ditado.

Por outro lado, fiquei abismado em perceber como é possível transmitir sentimentos só com os olhos e a boca. Os personagens do filme não têm músculos na face pra mexer, e mesmo assim demonstram todos os sentimentos possíveis de um ser humano. Impressionante!

Gosto muito dos filmes do Spike Jonze. Eles são malucos, oníricos, modernos, inovadores. Acho que ele consegue ser surrealista de uma forma cativante e tocante. Amo “Quero Ser John Malkovich” e “Adaptação”, mas o melhor filme dele, pra mim, ainda é “Onde Vivem os Monstros”.


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